terça-feira, 21 de julho de 2009

Um dia foi

Porque sinto o fervor se esgotar
E em teus olhos nada mais encontro
Se desse desencanto nunca escapar
Talvez extenda minhas angústias a contos

Se de tanto o querer
Não sei se nada mais quero
De pensar, faço aos poucos morrer
O que exarcebou teus olhos, eu espero.

Não hei mais de desfrutar
Nem o doce licor
Dos beijos e amores que me fez jurar

Se de tudo nada me restar
Viverei a estreiteza do devaneio
E nem o gosto do morrer irá acalentar.

Prazeres de um bom homem.

Andava e respirava sempre tão distraído e pensativo, comia depressa e dormia pouco. Foi então que se despiu de todas as suas facetas e resolveu caminhar à noite pelas ruas de uma São Paulo adormecida que apenas ele conhecia. Ia sempre por si e só.

Diante da imensidão do mundo, via o vazio dentro do seu peito tomar-lhe a própria alma. A aventura deveria ser sempre tão fatigante? Não saberia responder, nunca o soubera, há tempo as palavras lhe foram arrancadas, assim como seus anseios lhe foram roubados.

Sentia-se só, e de fato o estava. Sobretudo, sentia os ares da liberdade tocar-lhe a face e ninguém mais...pensava em sorrir e apenas continuava a caminhar. Todos os motivos lhe faltavam, todas as companhias lhe eram negadas, recusava-se a comprá-las, mesmo que muitas vezes lhe parecessem tão vitais.

Decidiu tomar um café. O antigo pub fedorento da esquina sempre o fora tão atraente... Por que não? – “If nothing ventured, nothing earned” – pensou consigo mesmo.

Entrou, encarou timidamente a bela mulher no balcão e sentou-se na mesa mais distante de todas as vozes frenéticas e de todo o calor humano. Pediu um café bem quente, três cubos de açúcar e oito guardanapos, por favor!

Começou a ouvir as gotas de chuva que batiam na janela ao seu lado, e quase instantaneamente viu-se internado em sua própria imensidão incompreendida. Não poderia mais voltar a sua antiga e confortável realidade, agora tão mais fragmentada e perdida por entre seus erros e amores. Será que realmente uma parte lha faltava? Nada existe apenas por existir, não é mesmo? O que sua existência seria então? O vazio seria sua negativa?

Enlouquecia aos olhos do mundo, causava repudia e desgosto: pobre homem que via o tempo passar correndo ao teu lado, tempo que o engolia e lhe arrancava o vigor pouco a pouco...

Extasiado, em desespero, louco de amor e de viver, ele fugia, sempre corria para longe, para seu passado distante ou quem sabe para as margens do Rio Minho, deitar-se e sonhar com a serenidade do teu amor.

Sem novas perspectivas ou pontos finais, o pobre louco homem vai embora. Sabe que tudo o que sabe é o seu próprio “não-saber”. Nem se importa, não pensa mais em se encontrar, quanto menos em se perder, apenas segue sem razão. Agarra sua xícara de café, traga seu cigarro amassado e contempla o novo céu azul de uma manhã de domingo.

Na medida

São de sorrisos

São de olhares

E de meias palavras

Que é feito o nosso amor.

Sob medida

Algumas lágrimas

E outras tantas brigas

Outros olhares e tantas mãos dadas

Tudo feito sob medida

Na medida do nosso amor.

Tarde cor-de-rosa laranja

Dia desses me peguei pensando sobre o amor. Entre falsas idéias e discussões monologas, passei uma belíssima tarde rosa – alaranjada tentando decifrar todo aquele fervor dos romances – hollywoodianos – mamão – com – açúcar, que acometem todo e qualquer coração pulsante ao menos uma vez na vida, por mais miserável que esta seja.

Pensei em você... E eu, em nossos corações e acima de tudo, pensei na certeza que tenho ao dizer: “Eu te amo” – De onde vem tanta convicção? - E coloquei-me a questionar, outra vez e novamente: Como saber que és exatamente a parte que se encaixa em minha fragmentada alma? Como saber que este sim, finalmente, é o mais puro indício do tal amor que todos nós, supostamente, devemos sentir? Como saber, se dúvidas é tudo o que tenho?

Deito-me e ouço João cochichando-me ao pé do ouvido “Ao encontrar você, eu conheci o que é felicidade, meu amor”. Eis, a grandiosa epifania da tarde rosa/laranja: Senti meu mundo girar mais depressa, senti meu corpo mais quente que a velha chama e o sorriso, o sorriso que é só teu... Foi inevitável!

Entre devaneios pude entender que meu viver é sentir, pois ao fazê-lo, misteriosamente, compreendo de tal forma, tão peculiar e excitante, o infinito diante de mim. E quando te sinto, teu corpo junto ao meu, tua alma junto a minha; e nossos amores juntos, dentro de nós, eu sei e apenas sei, que nesse espaço e tempo, nesse “aqui e agora”, de nada mais preciso! Nem de mais ninguém, nem ao menos da luz do sol, pois já a tenho descansando no teu olhar...

E então, do que é feito o meu sentir? Sei que são apenas sorrisos, e olhares, e mãos dadas e sussurros. E são mais do que certezas e infinitas provas de que meu amor é todo teu, pois em nosso instante, eu mais uma vez sei e só, que tu és irrecuperavelmente meu.

Rispidamente, porém sem hesitar, tudo o que sinto, transforma-se no tal do amor, de que tanto ouvimos falar.

“Vinícius mandou dizer que existiria a verdade, verdade que ninguém vê. Se todos no mundo fossem iguais a você.”